Quando iniciei a minha carreira no mercado imobiliário, falar sobre locação de imóveis era sinônimo de um estado transitório. Tínhamos o locatário (aquele que irá morar no imóvel) que se interessava em alugar para ver como seria a experiência em morar sozinho, tínhamos histórias de casais se separando, tínhamos muitos jovens que vinham a São Paulo para cursar a faculdade e tínhamos também muitos casos nos quais, na impossibilidade de comprar o seu imóvel pela dificuldade e altos custos com financiamentos, as pessoas se rendiam à locação por falta de opção.

Quando olhávamos a figura do proprietário (locador do imóvel), via-se aquele dono de um imóvel ou até mesmo de um patrimônio no qual não se interessava muito em atualizar os seus bens, que nunca entendia as necessidades do locatário e sempre sua única preocupação era o lucro a qualquer custo.

Naquele cenário, tínhamos como resultado uma relação onde o locatário na maioria das vezes estava insatisfeito, tendo que alugar um imóvel em condições indesejáveis e preços altos, e do outro lado tínhamos o proprietário totalmente irredutível.

Com a chegada da crise em 2008, o mercado sofreu uma enorme recessão. Aqueles imóveis antes alugados com facilidade, passaram a ficar desocupados e os interessados para a locação desapareceram.

Não encontrando outra saída, os proprietários foram obrigados a investir nos seus imóveis para, através da diferenciação, atrair novos locatários. Toda melhoria passou a ser de grande valor competitivo na escolha entre este ou aquele imóvel.

Como uma nova forma de acelerar as locações, foi a provada a Lei 12.112/09, que trouxe ao mercado a possibilidade de ser feita a locação residencial sem fiador, e no caso do não pagamento, passados 15 dias, foi dado o direito da concessão de uma liminar para assim o proprietário ter uma rápida retomada do imóvel.

Esta prática não ficou usual, mas abriu o precedente para termos um mercado com outras possibilidades de garantias locatícias, passando a não depender somente do usual depósito caução e do fiador.

O seguro fiança passou a ser o preferido tanto dos locatários como dos proprietários, e o Título de Capitalização, que até então não era utilizado, passou a trazer em seu produto garantias muito mais interessantes e atrativas.

Com menos burocracia e mais agilidade no processo, houve a viabilização para que em menos de 1 semana fosse possível encontrar o imóvel ideal e alugá-lo.

Desde então, estamos vivendo uma mudança significativa. Atraímos ao mercado de locação empresas de tecnologia, que estão prometendo descomplicar todos os processos desde a visitação do imóvel até a aprovação do interessado e a entrega das chaves.

A locação tida como “patinho feio” do mercado, tratada como algo difícil, está se tornando cada vez mais ágil e segura.

Indo na mesma direção, podemos ver o comportamento social mudar muito nos últimos anos, o que também reflete no mercado imobiliário. Nas gerações passadas, o grande objetivo familiar era realizar o sonho da casa própria, que representava estabilidade e segurança. Havia uma valorização maior da tradição. Era comum que as famílias se estabelecessem nos bairros onde passaram a infância, criando seus filhos e netos na mesma casa, estabelecendo com ela laços afetivos que iam passando de geração em geração.

Hoje, vemos o uso sendo muito mais valorizado do que a posse. A experiência de poder estar sempre em movimento e em mudança passa a ser natural, assim como poder trabalhar durante toda a sua vida em diversas empresas passou a ser normal.

Por isso, alugar imóvel se tornou um comportamento e sinônimo de liberdade, de flexibilidade, até de modernidade. O que antes era uma condição para quem não dispunha de recursos para financiar a sua casa própria, hoje pode ser também uma escolha consciente de quem não abre mão da possibilidade de ir e vir.

E você, também partilha deste mesmo pensamento?